domingo, 29 de dezembro de 2013

ouvi gritar na rua

Fanatismos barulhentos
Onde se tomam abrigos
Por refúgios que se alongam
Nas horas, nos dias,
Em coisas de exclusiva criação humana..
(Alguém berra na rua.)
Muitos passam por milhentos,
Parafraseando pressupostos amigos,
Que seriam, pelo ladrar de um cão,
Substituídos. Que farias?
Que farias sozinho numa cabana?
(Já ninguém berra na rua.)
O refúgio será uma coisa tua:
A sanidade -
Ou a falta dela.
Não conhecendo nada mais,
Senão quatro paredes que não abrigam.
(Quem te dera que berrassem na rua.)
Mas ninguém grita. Não, na rua não berram.
Porque, na verdade -
Lucidez? E que é feito dela? -
Te isolaste dos demais
Porque não te diziam pão
(O que é berrar na rua?)
Nem to davam,
Se assim o pedisses.
Não passam de infelizes,
Mas tu também não.

sábado, 28 de dezembro de 2013

o descampado do sonho mal dormido

Olhei para cima,
Reparei que as nuvens se sobrepunham,
Sorri,
Pois vi nelas semelhanças:
Quer nas formas,
Quer nas cores.
A cor do céu com elas rima,
Não esperando nada senão emoção
De quem nada pode fazer por si.
Poços de esperanças,
Que raramente calcam as bordas,
Retidos por todos os dissabores
Trazidos por um vento
Que teima em aparecer indesejavelamente.
Uma brisa que destrói criações
E leva daqui corações...
Esses que só se aguentam no Verão.
Tudo o que é meu eu invento
E o que não é eu encontro na mente,
Como demente que sou, foliões.
Não preciso de pesares nem perdões,
O meu amor não é de meia estação.

domingo, 22 de dezembro de 2013

os tiros no escuro

Olhos negros,
De um brilho inebriante -
Ironias que me flanqueiam
Tanto na mente como no real.
Perco-me por aí...
Inúmeros degredos,
Como o grilo falante,
Em ruelas por onde pensamentos passeiam,
Com um andar anormal.
"Era apenas prédio, de onde saí..."
As ruelas passaram a ruas,
Os pensamentos a memórias
E os erros a escórias.
Personalidades cruas,
Que desintegram o ser,
Não sendo nem uma nem duas -
Pois que não vejo histórias
Ou mnemónicas preparatórias
Que me mostrem particularidades tuas.
Algo único e próprio,
- Meu -
Sarcástica e biblicamente óptimo.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

predilecção pelo desgrenhado

Falso sentido de oportunidade.
Jorram brechas
Não sozinhas, porém,
Com elas os desperdícios.
O meu feitio persuade
Mas nele tropeças.
Sei que fico aquém - ou além -
Dos precipícios
Que mostravam quão cúmplices
Eram os olhares que se trocavam.
Não serei perdoado:
Nem demonstrações de simpatia
Que desvanecem em ápices
De clamorosa hipocrisia.
Confrontei este tabu
Como se fosse um cego
Com peito de ferro
E mente incontornável.
Escrevo para que tu,
De mãos dadas com o teu ego,
Sintas o pulsar deste berro
Que te empurra do estável
Para onde não sentes, não és nada.
Lamento a lufada e todo o som
Que te fez fazer à estrada,
Sem conhecer algo de bom.

falha no discurso contemplativo

Considerando perfeição
Em termos supérfluos,
Atingiste-a de forma soberba.
Com a razão disponível te digo
Que não minto.
E peço que outros usem a mesma razão
Para me suportarem, fulos.
Chateação, e que eu beba
O suficiente para te ver como amigo,
Pois o meu intelectual está faminto,
Sedento de tua beleza,
De que nem teu interior priva.
Surpreso te olho,
Sabendo que a realidade encaro,
Mas, sem dar um passo,
Perco-me no que julgo ser teu olhar.
Ahh, realeza!
Como gostaria eu de dispor
De tudo ao molho. -
"Não precisas de nada que seja caro"
Acaricio-te a face,
Tento não me espalhar.

domingo, 8 de dezembro de 2013

um domingo banal

Melhor que escrever é escrever com um propósito. Pois que se pudesse dizer que o faço, como algo que facilmente me despertasse prazer, di-lo-ia. Assim como não posso, limito-me à insignificante presença que o meu limitado pesar ocupa aqui e ali, passando despercebido tanto quanto uma figura escura mo permite.
Perpetuo o que é fácil perpetuar - marcas, falhas e farpas por onde estou a passar - mas nada que valha a pena nomear, como toda a gente (ou quase, se encontrar alguma réstia de optimismo). Não creio que haja lembrança possível de todas as banalidades que produzo, seja o riso em alguém ou a fúria noutro, pois emoções como essas - fortes ou nem tanto - são o pão nosso de cada dia para todas as pessoas, todos os dias. Com tudo isto quero chegar ao meu ponto de vista, aquele tão retorcido gnomo de que ninguém ouve falar ao tempo,
Tantas divagações haviam de levar-me para longe do que queria dizer, como de costume, julgo, porém, que aprendi a desembelezar o que fazia, de modo a ser conciso e mais interessante, em vez de disperso e pseudo-intelectual.
Eis que a lado nenhum queria chegar, já que por muito que diga e por muito que faça, irei sempre retomar a uma posição sedentária a olhar uma luz cada vez menos clara e cada vez menos cativante, como tudo o que rodeia os meus movimentos lentos, ledos e inseguros.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

vizinhos II

Dias que te dão,
Dias que despendeste;
Dias que querias,
Dias...
O frio, que vão,
E um desapego como este
Que remete para euforias -
Que falhas no chão que palmilhas
Por andares sem fazer questão
De olhar para o que perdeste
Por teres ousado,
Por teres parado:
A culpa é de quem se sente culpado.
Discordâncias num raciocínio
Que por terra cai
Sem fazer sentido.
Entrámos no declínio,
Como se nos perdêssemos da mão do nosso pai;
Compra um casaco forrado
E foge para todo o lado,
Pois todo o lado é nenhum
E é disso que precisamos,
Não de conforto algum..

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

o cartório universal

Sentimento de culpa
Que imprimes noutro,
Por outro ser culpado
Com condições arbitrárias.
Não desejo mal...
Mas não peço desculpa.
Tanto e pouco neutro
O que resulta de acções contrárias
Ao considerado normal.
Falhei-te outra vez -
E juro que tentei não o fazer -
Porém, algos se juntaram contra mim
E nós?
Como favor não me fez
Esse Universo de perder.
Torno-me uma divagação assim,
A sós.
Pois que continuo a querer,
A fazer o frenesim:
E nós?