sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

piscina de bactérias

Tantos meios
Que se recostam
Por onde se idealizava passear.
[Brisa fria de aconchego
Que me priva do adormecer
Directo, sem rodeios.]
Um bastão
Para eliminar o comum pesar
Que alieno, no meu desassossego,
Na barafunda que é ser.
- Um programa de falhas,
Um raciocínio parado.
Não passo de pântano enlameado.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

um (...) e fechar de olhos liberal

Ouvi com os olhos fechados algo que me fez lembrar, sonhando, um clarão de luz que me provocava um estalo no que havia-de chamar um olfacto gostativo. Estava, efectivamente, de olhos fechados, mas não foi de olhos fechados que ouvi o clarão, foi com eles. Não que isto faça algum sentido - porque se parte, humana e obviamente, do pressuposto que se ouve com os ouvidos e não com os olhos, ainda que fechados. Mas isso é um pressuposto de pessoas limitadas e muito científicas. Não gosto de pessoas muito científicas -, mas gosto de acreditar que o facto de estar de olhos cerrados fez com que o que quer que tenha dentro de mim, referindo-me então a qualquer coisa de espiritual, se tenha exteriorizado e ganho uma preponderância maior do que o poderio físico gostaria que tivesse ganho. Com isto, explicito a maior força do mental em detrimento do físico.
Enfim, ouvi o clarão e, como humano perfeitamente racional e idiota que sou, ia ceder ao primeiro reflexo do medo, abrindo os olhos. Controlei-me a tempo de perpetuar (perpetuar por segundos. que ironia.) cores no escuro - o escuro que encontrava por aí por andar sem abrir os olhos. Um escuro que me dava um conforto inútil e pouco descritível. "Ao menos, é conforto", pensei eu, ao deitar-me na cama que tentava dar-me consolo após uma semana atarefada e desnecessariamente sofrida. O conjunto das almofadas, do colchão, dos lençóis, do cobertor, da tímida colcha e do esplendoroso profundo que alguém havia decidido colorir para minha trémula e indecisa felicidade estava por ali, como se o meu quarto se tratasse de um qualquer sítio paradisíaco e utópico, criado por um qualquer génio cuja alimentação fosse à base de estupefacientes e vitaminas.
Deixei-me deitado a ouvir clarões. Justifiquei-os com um género de sobre-dose de actividade cerebral, levando a um encerramento prematuro da massa cinzenta que, na altura, pouco ou nenhum controlo tinha - ou tentava ter - sobre o que antes era seu reino e país, sobre o único lar que conhecia. "Por vezes, o melhor é mesmo deixar fluir", disse a mim mesmo, com esperança que quem recebesse a mensagem não fosse eu mesmo mas o inseguro centro de comando.
Depois adormeci e foi isto: uma aventura em coisa de vinte segundos.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

a pangeia dos idiotas

Tudo era agitação harmoniosa;
Tudo era mar;
Tudo era traiçoeiro -
Mas não conhecia o medo.
Tudo era um mar de nada.
Ah, súbita estupidez impiedosa
Que me turva o acto que é pensar
E me deixa a mente sem paradeiro -
Pelo menos, conhecido.
(...)
Idiota destemido
De inteligência ao peito
(No peito nem tanto)
Porque não perdeu - ainda - a cabeça.
Quem me dera ter ido
Onde ninguém vai (bom proveito).
Estafado, reponho o defeito
De não ter defesa,
À deriva num mar de nada.