sexta-feira, 25 de julho de 2014

imperial

Senhor desgosto,
Prazer!
Antíteses idiotas
Estruturam um prédio
Tapado pelos andaimes
Que me forram.
Estivesse eu disposto
De forma a entender
Que todas estas formas - portas -
Não são fuga do tédio;
São açaimes
Que me negam.
Negam-me e anulam-me
Como se fosse insignificante -
E talvez seja -
Porque este mundo nada me oferece:
Sou uma criança pobre
Num Natal constante (porque o Natal é quando um homem quiser, afinal).
Infame
O gratificante
Sabor da cerveja,
Que os lábios me humedece
Até que me invada a morbidez.
Fosse isto fatal,
Fosse isto sensatez,
Fosse isto o que parece,
Para me ir embora de vez.

terça-feira, 22 de julho de 2014

boa noite

"Começo a conhecer-me. Não existo." (Álvaro de Campos)
Existir é relativo e eu também.
Sou relativo a tudo e há coisas relativas a mim;
Mas não vejo reciprocidade.
Talvez me falte percepção,
Talvez me deturpe o desdém.
O "talvez" faz-se frenesim
Quando me revejo na cidade.
Aqui, só sou cidadão,
Não sou pessoa, não sou ninguém.
Aqui, não existo.
Passo-te ao lado
Como um jornal ressequido no passeio.
Resumo-me a isto:
Desfraldado
E completamente alheio
Ao que possas pensar...
Porque eu conheço-me e isso deixa-me triste;
Mas tu conheces-me e és feliz com isto:
Com um quase fardo.
Quiçá possa rematar
- Baseio-me em todas as vezes que riste
Comigo, por mim, sorrindo num misto
De admiração por este bardo
E de amor por este idiota.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

canino que não abana a cauda

Todas as portas deviam ser saídas daqui;
Não aguento o peso do ar,
Não aguento as pernas a cair:
Quero correr até que elas me caiam...
Mas quero correr para longe.
Longe de mim, fugir por aí.
Sinto o peito quente e a arfar
Os flashes, que me cercam, pairam
Comigo e cegam-me hoje.
A cegueira foi uma bênção para mim.
Não me adequo -
Não pertenço aqui nem a lado algum -,
Pertenço ao vento e à força de vontade
E gostava de me pertencer,
Porém, não me encontram forte de espírito.
[Nas quedas, perpetuo
Um fôlego de jejum:
As mazelas da idade]
Indeciso entre ser ou não ser,
Deixo o grito e deixo a frustração;
Abraço a notícia e este mundo de cão.