sábado, 26 de outubro de 2013

o preto e branco deste lado do espelho

Colorir em tom negativo.
Cinzento torna o tudo.
Pensamento difuso
Fora de escala.
Olha para ele, o esquivo,
Que se deixa definir como "mudo",
Partindo de um olhar confuso
Que grita, grita, mas não fala.
Sou homem pouco receptivo
E meu cérebro é carrancudo.
Perdoa-me a falta de parafuso
Nesta que se arregala
Como idóneo, perdido e apreensivo.
Oh, coisas que definem o meu estudo.
Estudo será ingrato e difuso
Pois assim me defin(h)o, sem alma.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

o incêndio no oceanário

Madrugo ensonado
E deambulo para fora da cama
Sem vontade para o mundo,
Ou força...
Esta chuva deixo, tão vago
Quanto ela que me chama.
Pensamento profundo
- Que alguém o ouça.
Presto-me ao danado
E garanto má fama
D'onde era oriundo.
"Ou força"
Para algo que me aligeire o fardo.
Pois quem ama sempre bate no fundo.
Recomponho-me a nado
E na água sou chama
Que não apaga, mas confunde.
Espero que por mim torça,
Eu, um mal-amado
Que desistiu da queima,
Que se olha como defunto
Oh, força...

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

beijo a flor; beija-flor; beijo-a, flor

Quem sou eu?
Quem somos nós?
Existo sequer?
E nós? Existimos?
Aquele mais que irónico "doeu?"
Depois de queda até à foz.
E tu, mulher,
Com teus dotes femininos,
Arrasas qualquer desejo meu
Com facilidade atroz.
Salvo um malmequer
E calamo-nos como mimos
Cuja telepatia desapareceu.
Oh, quem somos nós?
Não que houvesse bem-me-quer
Na felicidade de fugirmos,
Num porém residíamos - e se deu.
De meus dedos se esmorecem os nós,
Desaparecem como queda de talher.
Debaixo da mesa, os crimes
Que já lá vão.
Oh, quem sou eu?

sábado, 19 de outubro de 2013

ahh, se a astúcia te fosse virtude

Simples formas
Moldam-te as feições.
Brilho inegável
Do que havia pelo passado.
Resume-se tudo a um "mas";
Continuas a marchar para os canhões,
Qual português afável
De coração destroçado.
O teu corpo adornas,
Mesmo com feijões...
"Que faz ele?!" -
Ouve-se a voz de um amor arrancado.
Deitas as lágrimas às furnas,
Perdes-te em trambolhões
Entre o que era racionável
E o que devias ter pensado.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

à conversa com

- Antecipei-me, amigo.
- Em boa hora chegas, que me sinto aborrecido.
- Que te atrasa o pensamento?
- A vida.. teimo entorpecer-me bebendo.
- Sentes-te melhor ao beber?
- Alivia-me, creio. E assim me junto à sociedade, ao degredo.
- Ahhh, havias tu de fazer parte de algo. Somos renegados, párias.
- E daí porque havemos de não aspirar a um disfarce?
- Conseguindo uma integração, mais rápido uma metade de nós quer matar-se.
- Levas-me ao suicídio?
- Não te levo a nenhum lado. Mesmo assim... para lá caminhas, copo a copo.
- Falseias-me assim o pensamento, raposa?
- Não não, a tua mente é que pouco repousa.
- O descanso nem me é forte nem tampouco fraco. É-me nada.
- Deterioras-te dentro de um bar escuro, que tal fazeres-te à estrada?
- Por'í fora pouco há que me encante.
- Hm, decerto encontrarás alguém relevante.
- Para interessante tenho batalhas forjadas na minha cabeça.
- Porquê cingires-te à mente, esse mar de álcool... nada que te favoreça.
- A questão será "porque não?"
- Agora me apanhas em falso a mim...

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

fugas do in/eterno

"Que sonhas tu de dia?"
"De mais, que não sonho de noite"
Responder directamente
Nunca será o meu forte
Pois, numa pitada de mistério,
Reside o que antes me aprazia.
Acordado e a dormir, julguei-te
E encarcerei-te na minha mente.
Que fiques até minha morte,
Num casamento mais ou menos sério.
Não. Não. Esquece isto e a maresia,
O nosso oitenta passou a oito
E tudo está diferente.
Dêmos uso ao passaporte
E asas ao adultério.

domingo, 13 de outubro de 2013

o (a)pesar da madrugada

- Que se passa? -
Pergunto-te, ensonado.
Respondes-me com um "nada",
Divagas um pouco e sais.
Eis que me levanto, e que a cama se faça,
Pois carrego em mim um coração danado.
Onde foste nesta madrugada
Que verdade tinha a mais?
Mente a minha que o tempo assa
Falha de novo. Oh, o desagrado.
De nossa casa inacabada
Acabas por fugir.. mais uma das demais.
Não quiseste a taça,
Só deixaste um bilhete rasgado:
"Vou, antes que nossa vida inacabada
Vá por onde tu vais"

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

visão futurista de um passado ausente

Mato dores,
Mato apatias
Definho no sofá,
Enquanto penso num amanhã.
Esse, que não há-de vir.
Milhares de flores
Lembram-me de nossos dias
Passados ao "deus-dará"
Com camisolas de lã
Que teimam em nos servir.
Liturgia dos desamores,
Vi que te perdias
Enquanto caminhava para lá.
Tentativa vã
De ajudar-te a decidir
O que querias para futuro, sem cores..
Deste vida a minhas ironias -
"Que perfeito que está"
- Clamavas, incrédula mas sã.
Saudades do que dissemos antes de dormir.

domingo, 6 de outubro de 2013

a paragem de autocarro no buraco negro

Especo-me (im)paciente.
Olho o tempo passar
Enquanto me perco.
Noção alterada
De insatisfação e verdade negada.
Não quero ir em frente,
Mas para ali não quero voltar
Que o agora é mais perto.
Sorte, sua desgraçada,
Que não me possuis nem à pancada.
Sempre me sinto (in)diferente
Perante e com este pesar.
Tudo o que vejo é esterco,
Inutilidade, quase um nada.
Peço-te, não me dês outra vida furada.
Despeço-me, oh gente,
E em vós espero ressoar.
O livro fica aberto -
Uma edição distraída?
Não! Que olhos, enamorada... -
Para quem o quiser terminar.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

acabas, se te pedir?

Insanidade,
Predilecção retorcida.
Faço-te vénia
Por tornares interessante
O que resta deste mundo.
Deixar esta cidade,
Esta vida.
- Sr. Agente, algeme-a
A mim, um bom falante.
Com paradoxos me confundo
E perco a claridade
De minha mente tripartida.
Sinto-me ténia,
Um parasita insignificante,
Mas que te mata pelo fundo.
Assim te levo à inferioridade...
Apaga-me com pesticida,
Que desisti de ter alma gémea.
Faz com que seja cortante
Este meu pensamento profundo.