quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

embriaguez olímpica

Larga a coroa de aipo,
Que pões na cabeça
Natureza morta.
Para tal,
Chega a tua massa cinzenta,
Que cinza é de podridão.
Por meias palavras me escapo,
Que me esqueça
Que a estrada é torta -
Costume fatal.
O desânimo fomenta
Toda e qualquer oração,
Mas não,
Não me apanham em tamanha hipocrisia
Ou contradição.
A minha locomoção está comprometida
Visto que torci o que havia...
Torci o que havia para torcer
Que pensar é direito perto do que não sou.

Onde vou eu,
Perguntam-me.
Respondo que vou para a encosta
Porque do outro lado há descida.
Descida não era o que queria
Mas é melhor do que perecer.

sábado, 25 de janeiro de 2014

bailarina de granito

Ahh, a insustentável leveza do ser,
Que plagio de olhos fechados -
Ou vendados -
Por não querer ver
O que por aqui passa.
O teu ferver
Mostra-nos deslocados
Em penhascos
Por onde danças, sem recolher
Ao medo que te torna baça.
Dançaste entre montanhas
(E também com elas!)
Em honra de velhos tempos
Pelos quais te perdias...
Oh, se te perdias a atar sapatilhas!?
Por onde me perco eu?
Ahh, que me perco no que não era meu,
Por guardar-me disperso em ilhas -
E ilhas são iguarias -
Impostos sobre pensamentos?
Nuvens amarelas,
Não tenho dinheiro para pensar.
Façanhas.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

ignoro bússolas

As borrachas não apagam
As roupas não vestem,
E o teu pensar não te aquece.
Perco-me porque quero,
Não por não saber onde estou.
Limito um acto vão
Que em tudo fica aquém -
Do pouco que me estremece -
E da perspicácia que não declaro.
Vou para ali, mas não sei para onde vou.
O ali é vago,
Mas eu também.
Daí o vagar
Que, pesado, me faz perder.
(Nomearia o que me fez perder, mas apenas me faz perder)
Então, por aqui divago,
Como se tivesse um quem
Que me fizesse parar.
Ignorância de quem faz sofrer.

domingo, 19 de janeiro de 2014

I

Movimento tão lento
Que podia considerar estático.
Não encontro razão para tal:
Se do tempo,
Se do meu movimento...
"Falta de pensamento" -
Pensei eu, sempre melodramático.
O mundo inteiro tornou vegetal
E eu um contratempo.
Em minutos, frequento
Mais de um milhar de lugares
E vejo uma centena de pessoas
Que, diferentes, se mostram iguais
Perante a minha arrogante indiferença.
Tão bom o rebento
Da minha mudança de ares
Para todas estas intenções boas
Que se negam aos demais
Como se merecesse uma recompensa
Por em ti ter caído
Casualmente -
Quão distraído -
Espero que aguente.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

filosofar de um pedragulho

Não gosto da escrita dos outros, nem tão pouco gosto da minha. Gosto mais da escrita dos outros e isto pouco me convinha, se eu fosse crédulo para com as minhas capacidades. Como tal não acontece, não me importo que meu apreço seja pressupostamente mal distribuído, dando alegrias a quem pouco precisa delas por total confiança terem na plenitude das suas faculdades mentais - coisa que ou não possuo ou simplesmente não percebo como atingir.
Talvez fosse mais fácil se acreditasse que o chocolate derrete no estômago em vez de se dissolver, já que este optimismo cego e ignorante podia levar-me a coloquialidades que me enaltecessem em relação a outros possíveis intervenientes que por aí andam a expressar os seus pensares pouco pensados e bastante irrelevantes.
Fossem tragédia as opiniões descabidas que se mostram em troca de apoios idiotas e, em todo o seu ser, supérfluos como as "flores duradouras" que decidiram passar a vender a mulheres de meia-idade. Coisas louvadas de forma canalha - pensei eu -. Mas canalha como quem diz... pois poucos são os calhaus que perdem tempo a olhar para o mar que os envolve.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

acorda-me às três

Não me lembro de adormecer,
Tão pouco me lembro de dormir.
Reconheço que tombei, qual desastre,
No que julgo ser um colchão.
Não, só o tapete me separa do chão.
Fiz um pedido ao teu ser,
Enquanto, inebriado, forçava um resistir
Que perpetua esta arte
Que é a negação.
Já nada me separa do chão.
Pedi que me acordasses às três,
Pois de madrugada se transformam mentiras,
Esboços de ideias, em verdade.
Pensei ter-te conseguido a mão...
Para onde foi o chão?
Bem não me fez
A última bebida, como a dos que se conformam
Com as vaidades
Que levaram à minha falta de razão.
Pois que me perco a procurar o chão.
Não atentaste ao meu pedido,
Visto que em muito passa das três
E tudo está calmo.
Ahh, quem me dera não ter adormecido.
Seria agora mais do que vês,
Ainda que caído no chão
Exausto, por não ter coração.

domingo, 5 de janeiro de 2014

teatralidade de uma rotina

O que antecede uma rotina?
Um nervoso miudinho antecipado
Que se coloca onde não deve colocar-se:
- Na mente.
Devia estar limpa, impávida e serena.
Porém, o meu pensar irrita-me mais que uma concertina.
Faz-me desejar um principado,
Um refúgio, uma farsa...
Uma farsa, exactamente.
Sempre gostei de fantoches
E do automatismo das coisas.
Estes opostos tanto têm em comum
Que me extasiam com o seu diferente.
"O diferente está (de) onde se olha."
As rainhas andam em seus coches
Protegidas por algo como 10 mil coifas.
Matava-os um por um,
Esses arrogantes de peito quente. -
Há que lembrar que a chuva miúda não mata mas molha. -
Disfarçam-se no seu reino,
Ordenando que qualquer um os acuda,
Talvez em troca de apreço? Não, nenhum.
De que falava antes da recolha?
Ah, de farsas, exactamente.