terça-feira, 4 de março de 2014

cafetarias mal arrumadas

Gosto do cheiro do café. Não aprecio o seu sabor a nu, na frieza que a chávena torna sem o açúcar; mas apaixono-me pelo cheio do café cada vez que o sinto: cubano, colombiano, brasileiro: gosto bastante de café com açúcar, açúcar sul-americano.
Gosto que as conversas cessem quando a máquina está a moer os grãos; aquelas pancadas características para retirar o café usado e as duas levas de café em pó que a máquina tão dolosamente faz com que pareça caído do céu. E eis que, no meio de um qualquer estabelecimento com melhor ou pior ar, se ouvem as primeiras pingas de café, antes da onda de barulho que nos silencia os ouvidos.
O cheiro invade-me e rapidamente me abraça como conforto bruto e inerente a qualquer dos espaços onde desejaria estar ao beber aquela água excitante. Bebo café e sou atirado para uma cama a disparar 30 pensamentos por uma linha - o café acorda-me deitando-me -; o café reinicia todo um sistema de clamorosas falhas criadas e fomentadas por uma natural e irracional falta de descanso.
Uma máquina e tanto esse cérebro. Tenho uma máquina em mim e o combustível é o café.
Aqueles grãos têm um cheiro delicioso, perco-me no toque do que mal vejo.
Porém, todas as ilações que podemos tirar do café são um tanto monótonas e açambarcadoras de tempo precioso que inutilmente decidimos despender: o nível de queimadura e a quantidade que vem na chávena. Pouco ou nada nos surpreendemos, já que, num tão completo genoma quanto o que possuímos, já nós habituámos ao racio de novidade numa suma de acontecimentos largamente repetidos.
Gosto do cheiro do café. Gostar de café é quase tipicamente português.

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