terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

wander/wonder

Sentei-me, estafado, após uma deambulação infinita pelo mundo dos pensamentos. Olhei para a parede, que da minha frente não tinha saído, e constatei que continuava branca. "Que surpresa..", pensei em tom irónico e desagradável. Aí, percebi que não é por imaginar, idealizar ou mesmo desejar algo que a realidade se altera. Infelizmente, também não consigo moldar a realidade ao meu gosto, não é pedaço de barro. Muito menos segura seria, também, se todos a moldassem, quero eu dizer. Acredito, portanto, que a realidade não pode ser moldada, mas sim absorvida e colocada no seu lugar, dentro de cada um.
Depois deste tímido prólogo, passo ao episódio a que, com "deambulação", foi feita referência, com várias e largas supressões.
Julgo que acabara de almoçar, pois ainda sentia o gosto de sal e a doçura que lentamente se convertia num mau sabor deixado por uma bebida doce. Andava, num passo lento e observador, por uma rua simpática. O dia estava cinzento e, ocasionalmente, ventoso, mas não estava frio. Olhei para o chão e ri-me. Vira os meus queridos All Star, completamente chacinados mas com uma pinga de classe que não me permitia largá-los. Olho mais para o lado e vejo as pedras da calçada, incertamente colocadas, e todos os dias pisadas por milhares que as olham com indiferença - senti pena delas.. Não me recordo do que estava a ouvir, mas era algo calmo, roçando o depressivo.
Continuei a andar, rua abaixo. Não percebi o porquê de ainda não ter ido para casa, já estava sem companhia, já tinha almoçado e já tinha esgotado as razões para ter saído de casa, em coisa de 1:30h. Não tive, no momento, este raciocínio, como é claro. E assim, continuei estrada fora, mergulhado no entretenimento que todos os pequenos pormenores dos passeios me proporcionavam. A dada altura, reparei que não descia, mas estava num local plano no qual areia se sobrepunha às pedras dos passeios, o vento havia-se intensificado e estava com um bocadinho de frio. Disse, educadamente, um "adeus" aos calhaus da calçada e desviei o meu olhar para cima: o que me envolvia era já um ambiente de interligação entre uma praia e uma cidade. Felizmente para mim, havia um muro que dava para o areal, apressei-me para lá e sentei-me. Decidi desligar a minha música e guardar os meus haveres na mochila. Pus as mãos nos bolsos do casaco e enterrei o queixo por baixo da gola do mesmo, deixei expostos os meus olhos e o meu nariz, cuja ponta estava a esfriar rapidamente. Respirei fundo e, por momentos, senti a calma que constantemente envolve a maresia a envolver-me também.
Olhei para baixo e, ignorando os meus ténis mal tratados, reparei no quão perto estava do abismo - ou que estava sentado sobre ele, melhor dizendo. Estremeci. "O que estou aqui a fazer?" - pensava eu, um tanto atordoado.
Decidi ir para casa e conversar com a minha parede, aquela branca.



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